segunda-feira, 25 de março de 2013

Domingo

Enquanto lá fora a chuva cai , incessante e intensa ,alagando os campos outrora secos e gretados , por aqui ,  na casa antiga , ao abrigo da intempérie  , recordo , já com alguma nostalgia , o dia de ontem passado entre pessoas felizes com crianças felizes.


terça-feira, 19 de março de 2013

Contingências do amor

Chego à conclusão que S. , voluntária ou involuntariamente , nunca foi honesta comigo , se é que , em questões de amor , a palavra honestidade tem algum cabimento.

Bem sei que fui o primeiro a afirmar que a nossa relação não tinha futuro mas não esqueço o alivio que ela pareceu demonstrar quando lhe disse isso. Afirmou , quase de seguida , o que nunca antes tinha dito: que estava a sair de uma relação mas não tinha a certeza se era isso que na verdade queria e que , portanto , de certa maneira, o que eu lhe acabara de dizer até tornava as coisas mais fáceis. É assim que me lembro da conversa.

Se houve surpresa , houve também alívio . Para um e para o outro.

Naturalmente que a partir daí as coisas , entre nós , ficaram diferentes. Mas , assim mesmo , a nossa relação durou ainda quase mais dois meses e houve até um momento em que , afinal , me apaixonei por ela. Nessa altura S. desapareceu. Quando sentiu que me estava a aproximar mais do que ela queria , afastou-se e , desde aí que , sempre que penso no que se passou , cresce esta ideia que na atitude dela houve sempre alguma desonestidade , se assim lhe posso chamar .

sábado, 16 de março de 2013

Seguro

Seguro , não é mais a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo transitivo , segurar. Seguro , é o apelido do actual chefe do maior partido da oposição em Portugal , o PS , e é , a primeira e ultima pessoa de todos os tempos e modos de um verbo de encher.

domingo, 10 de março de 2013

Discoteca

Um escandaloso emaranhado de sons,
cores penduradas pelas paredes,
sorrisos espalhados na atmosfera,
corpos esguios , movendo -se ,
uns junto aos outros,
num saboroso crepitar
de emoções.

sábado, 9 de março de 2013

Memória

Na altura não percebi quanto uma mulher podia fazer diferença na minha vida. Vivera demasiado tempo na enganadora  ilusão de que não precisava de ninguém , de que era muito bem capaz de viver sozinho e por isso dispensava as mulheres , não queria complicações , dizia para mim mesmo.  Como se alguém pudesse ser feliz sozinho...!
Mas tinham  sido muitos os anos de solidão e de um registo unipessoal e não partilhado de vida , que , sem que eu tivesse dado verdadeiramente conta , tinham tomado conta de mim ao ponto de não me aperceber sequer de quanto infeliz realmente era.

Quando ela veio até mim , julgava estar preparado para assumir uma relação a dois . Além de começar a sentir o enorme peso exercido pela solidão , sentia o tempo a escapar-se . No entanto , a bagagem de solidão que carregava não me deixou ver com clareza a oportunidade  que aquela inesperada aproximação me dava e muito depressa a quis afastar de mim.

S. tentava  sair de uma relação que a deixava infeliz e amargurada e tinha visto em mim uma espécie de bóia de salvação para a infelicidade em que vivia. Quis avançar muito depressa , muito mais depressa do que aquilo de que eu era capaz . Eu não estava realmente preparado para romper de repente com um padrão de vida que há muitos anos mantinha , por maior que essa fosse a minha vontade . Eu estava impregnado de individualismo e solidão. Queria muito libertar - me disso , quero muito sair disso , mas as coisas comigo não se mudam do dia para a noite.

Comecei a arranjar desculpas. Desculpas esfarrapadas , vejo eu agora , mas toda a espécie de desculpas . Primeiro tentava convencer - me de que ela não era a mulher certa, que não tinha o corpo com que sempre sonhara para uma mulher , depois que perderia a liberdade a que tanto estava habituado e tanto prezava e finalmente que com ela não poderia ter filhos e isso , de um momento para o outro  , era fundamental para a minha vida.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Adolescência

Apetece gritar alto e em bom som , como um adolescente inebriado faria : "Amo-te Raquel " , quem dera aqui estivesses e eu te pudesse sussurrar esse amor , olhando - te de perto , sentindo , no silêncio do aconchegante sofá, bem junto a mim , a tua respiração tranquila e nos embalássemos para dentro do amor com o bailado do crepitar da fogueira diante de nós.

Raquel

Não te posso dar ouro nem incenso. 
Apenas palavras . 
Palavras que por si só não têm valor , mas que uso para transmitir o meu amor . Um amor insano , sonhador , porventura irrealizável ,  mas incondicional , sentido e verdadeiro. 
Não estou mais em altura de ter medo nem vergonha de te dizer , Raquel , que te quero , que te amo , que  te desejo.
Acordo a pensar em ti e , mesmo não sendo possível , sinto o teu perfume à minha volta assim que , pela manhã , respiro as primeiras golfadas de ar .

segunda-feira, 4 de março de 2013

Fred

O meu cão - o Fred,um braco alemão - que está comigo há apenas um mês, veio até mim já com quase quatro anos de idade ; é portanto um jovem adulto ou um adulto ainda jovem.

De acordo com o seu anterior dono , o Fred , não teve qualquer experiência íntima , com o género oposto. Teve também pouca convivência social , passe a expressão, quer com pessoas, quer com outros animais , incluindo os da sua espécie. Passou grande parte da sua vida , preso. Por isso e por não ser bom caçador , veio para aqui. E ainda bem , digo eu agora , dado que se tornou um grande companheiro.

E foi porventura este seu passado de alguma solidão que fez com que , sem dificuldade , se tivesse dado bem com a gata Matilde, contrariando a proverbial incompatibilidade entre as duas espécies. Mas não foi só uma vontade de socializar que provocou esta improvável amizade. O Fred solidarizou-se com o frágil e débil estado da gatinha , provocado por rixas anteriores tidas com seus congéneres. Assim que se apercebeu que a gata estava  diminuída e doente , deixou de parte as ancestrais diferenças que afastam cão e gato ,  e adoptou - a como amiga , uma grande amiga até.

Obrigado Fred , pelo exemplo.

Bansuri

Tocado por Hariprasad Chaurasia , o Bansuri - uma flauta transversal , da Índia - rapidamente nos leva para  as margens do Ganges numa jornada de meditação espiritual e de purificação interior , mesmo sabendo quão poluído é aquele rio sagrado

Cuidado com os exageros

Nem todas as mulheres gostam que se lhes diga constantemente : " Gosto de ti!" . Não podemos andar a todo o instante a dizer-lhes isso. Cansa! Fartam - se de o ouvir. Precisam de sentir que talvez não gostemos delas. É uma espécie de pimenta na relação, um condimento do amor. Penso que têm um lado masoquista,  digamos assim. Apreciam uma certa dose de 'mau trato'. Gostam de estar na expectativa.

Guia para um namoro feliz

Se a queres namorar , é só nela que podes pensar. As 'brincadeiras' da mulher da tua vida , acabarão! É ela e ela apenas! Com o que tu já conheces , com o que ainda não conheces , com o que os dois poderão construir. Deixará de haver outras mulheres no teu horizonte. Os pensamentos, « ah! , que bela mulher ali está ou que ali vai a passar » , se existirem nunca , nunca lhe poderão ser transmitidos , seja de que forma for. Verbalmente , então , esquece, esquece mesmo , nem de brincadeira.!...  Se a amas , ama -la apenas a ela , a toda ela , com os defeitos e as coisas de que não gostas tanto , incluídas . Se a queres , não poderás querer outra , não poderás imaginar outra nem outras circunstâncias. Se a queres , tens que aceitar as coisas como elas são: que não irás ter filhos dela , que tão pouco poderás adoptar ; que ela já viveu com diferentes companheiros , que traz consigo uma bagagem de histórias e de memórias , umas que te agradam  , outras nem por isso; que ela já não é nova , que o corpo dela já não é novo ...

Se a queres , há regras a cumprir , regras que não podem ser violadas. Tens que ser apenas dela e ela será a tua mulher! A única mulher que terás doravante. Não haverá espaço para outras mulheres , nem para pensamentos com outras mulheres. Enquanto a tiveres , te-la-ás apenas a ela!


Futebol

Não gosto do ambiente que envolve o futebol e isso contribui para que pouco ligue ao desporto em si.

Su

Adoraria ficar contigo, Su.
És bem disposta , alegre , prática , inteligente e bonita.
Lidas bem com as emoções , nas tuas dúvidas, sabes o que queres. És elegante , menina quantas vezes , mulher feita na cama e na vida.

Gostava de ficar contigo, Su mas receio que não sejas a mulher que procuro, receio que não sejas a tampa certa para esta cada vez mais velha panela.

Sofro, Su , sofro de pensar em perder-te, sofro ao pensar em não mais ver-te , mas sofro também quando estou contigo, quando vivo contigo, quando partilho contigo os minutos , as horas ,os dias .
E este mal-estar é insuportável, não consigo viver com ele , não aguento tão grande desconforto.

Antes de ti , Su, podia não ser feliz , podia não saber nada sobre a partilha , o amor , o riso em comum,mas conseguia viver , tinha até momentos de esperança.  Agora não. Não consigo pensar. Vivo todos os dias numa confusão angustiante. Ando perdido , sem saber o que fazer com as mãos , com o corpo , com o pensamento.

(27 de Dezembro de 2012 )