domingo, 28 de dezembro de 2014

Excitação

Estou com o estômago às voltas. Normalmente acontece quando , inebriado , me entusiasmo com uma bonita e generosa ideia de amor , que me põe numa excitação tal que o estômago , antes do coração, é o primeiro a ceder.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Esquecimento

Não estou preparado para envelhecer ! , o que é um transtorno muito grande porque não há forma de parar o tempo,logo o processo de envelhecimento. Então vejo-me confrontado a toda a hora com circunstancias que me deixam perplexo e angustiado. A falta de memória, por exemplo ,  um dos sintomas da velhice , é , ao mesmo tempo uma coisa engraçada e perturbante.Esquecer não faz mal nenhum quando nos faz perder pensamentos , actos , palavras e gestos que nos desagradaram ou outros que não interessam para nada. Mas é chato quando combinamos um encontro importante ou nos comprometemos a ir buscar alguém ao comboio e nos esquecemos completamente. Ou ainda se deixamos a chave de casa em cima da mesa da sala e saímos todos confiantes para a nossa vidinha. É chato! traz-nos problemas e contratempos que podem sair caros...

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Questões de linguagem ou talvez não

"Mataste o homem."

Tinha ido à mercearia local , onde também se vende a sorte da santa casa e estas palavras foram proferidas assim , à queima roupa. Ao princípio levei a coisa como uma brincadeira ( de mau gosto ) que algumas pessoas , por estas bandas, usam um pouco. Por isso não dei grande importância à coisa.

Não me lembro bem se estava sol. Não chovia , disso lembro-me ! O Zé Augusto saiu da loja e ainda falei com ele cá fora sem que fosse preciso guarda-chuva. Por isso , realmente , não chovia. Não sei porque razão não esclareci , logo ali , aquelas palavras. Sou de um género de pessoas que gosta de trilhar o caminho mais difícil.

O homem, o tal que eu tinha morto , acabara de ser internado no hospital. Tem setenta e oito ou setenta e nove anos e , segundo se diz , tem um tumor na cabeça.

Cresci numa modesta aldeia de Portugal onde o nível de educação e cultura foi muito baixo . Quando fui pequeno , não havia televisão , poucas seriam as pessoas que tinham rádio e muitas , tão pouco , sabiam ler e escrever.A qualidade da comunicação não podia ser a melhor. Ainda hoje existem , por aqui , nas pessoas com mais idade , resquícios desses tempos.







No shopping

Atravessou a rua , na passadeira . Havia alturas em que tinha tão pouca confiança em si próprio que tinha medo de tudo .Os automóveis não eram excepção e só sentia segurança se atravessasse a rua nos locais apropriados para o efeito ou , não os havendo , depois de se certificar da absoluta segurança do acto.  Chegava a rir - se da situação mas era assim mesmo. Alcançou então o outro lado e começou a caminhar pelo passeio na direcção pretendida. Sentiu um prazer muito infantil em estar ali àquela hora , livre e sem pressa. A falta de compromisso que , tantas vezes , lhe dava uma inquietante angústia , estava agora a proporcionar - lhe , para além de uma invulgar leveza , uma inebriante sensação de liberdade. Aproveitou então o momento.

Deviam ser umas onze ou onze e meia da manhã. O dia nascera azul , quente , claro e sem chuva. Parecia primavera mas estávamos no Outono. Domingo. Muita gente na rua. Pessoas a pé , algumas de bicicleta e bastantes carros. Apetecia sair de casa depois de tanta chuva . O dia estava belíssimo.

A calçada entretanto acabara e , sem passadeira , atravessou a rua a correr. Antes , olhou duas vezes para cada lado garantindo de que não havia qualquer perigo. Sorriu como um idiota.

Até ao centro comercial deviam ser ainda uns cem metros ou coisa assim. Caminhou tranquilamente olhando em redor como se fosse a primeira vez que calcorreava aquelas paragens. Não era.

Como estão cada vez mais bonitas estas mulheres,pensou.Deus existe,afinal!

Já dentro do edifício , subiu as escadas até ao primeiro andar e entrou na tabacaria. Deu uma vista de olhos nas revistas e jornais mas apenas comprou os cigarros que queria. A empregada era uma miúda muito simpática , com uns cabelos muito bem arranjados e umas mãos elegantes. « Com um dia tão bonito está você aqui fechada? » , perguntou - lhe , sorrindo. Ela sorriu e disse: « Saio daqui a meia hora . Ainda vou aproveitar o dia » . Àquela hora , não havia muita gente no shopping . Andavam todos fora a aproveitar a bondade do tempo  .

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

sem titulo

Um mar de dúvidas e incertezas. O tempo , esse , não para. Navego então sobre essas encapeladas águas da agitação interior que os dias me vão trazendo.

O mundo não é um lugar tranquilo. Os homens fizeram dele um lugar com perigos de toda a ordem: guerras , doenças , ganância , dinheiro . O homem está pouco solidário. Tornou-se egoísta e egocêntrico . Parece haver pouca preocupação com o amanhã , apesar de cada um de nós pensar muito no seu futuro.


Dentro de mim , uma inquietação indescritível. Ondas de choque sobrevêm umas atrás das outras deixando - me confuso e atrapalhado.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Surpresa

Deviam ser umas sete e meia da tarde quando a campainha tocou.Estávamos em Maio e aquela hora ainda o sol não se tinha posto. Levantou-se vagarosamente do seu sofá , deixou de lado o jornal e dirigiu-se para a porta. Não esperava por ninguém pelo que se admirou um pouco por aquele inesperado toque.Estivera todo o dia dentro de casa entre uma preguiçosa leitura do jornal e o desatento olhar da televisão que pouco lhe chamara a atenção. Deitara-se tarde e por isso também se levantou tarde. Rita , com quem estivera na noite anterior, ocupava - lhe os pensamentos de uma forma tão intensa que quase a julgava ali a seu lado.

Nostalgia

Chove !
Acendo um cigarro. A noite já cá está há algum tempo. O vento sopra lá fora. Pouco mais se ouve. Dentro de mim um mar de silêncio traz até mim o teu sorriso. É o que tenho de ti , neste instante. Mas é suficiente para sentir alguma tranquilidade.

sábado, 26 de abril de 2014

25 de Abril

Detesto o fascimo e os fascistas.Não que tenha sido vítima directa desse regime.Fui apenas uma vítima indirecta.Tinha catorze anos quando se deu o vinte e cinco de Abril. Não tinha qualquer consciência politica.Tive sim , consciência e contacto com uma população pobre e pouco educada , que sobrevivia , maioritariamente , do pouco que a agricultura fornecia. Sabia , sem perceber as razões , da existência de uma guerra "do ultramar" , de pessoas da terra que lá estavam e de outras que lá tinham morrido. Pouco mais sabia.
Quando o 25 de Abril aconteceu , foi uma festa! Nesse dia e nos dias que lhe sucederam. Tudo era novidade para mim. Longe de Lisboa , assistia , ávido e ansioso  , aos acontecimentos pela televisão. Era tudo maravilhoso. Os cravos nas espingardas , as pessoas na rua , os comunicados a toda a hora , pessoas a falar de coisas que nunca antes ouvira e outras a entoar canções que nunca antes escutara.  Através do ecran a preto e branco , a revolução ia entrando pela minha casa e mente adentro. Rapaz tímido e introvertido que sempre fui , vivi a revolução quase sempre sozinho.Emocionava-me imenso ! Chegava a chorar de alegria em frente do solitário televisor.
Aquilo durou longos e emocionantes dias.Havia coisas que a minha ignorância não me deixava perceber muito bem e que não conseguia esclarecer convenientemente mas , mesmo assim ,  vivia num entusiasmo enorme porque sentia que algo de novo,belo e especial estava a acontecer. Além de tudo o mais , nem sempre havia aulas , assistia à mudança de ambiente no meu liceu e eu começava a despertar para o fascinante e misterioso mundo das mulheres. Era a Primavera total!
A sensação que perpassava era a de que tudo era possível a partir de então. Toda a gente falava e propunha, Havia ideias novas para tudo e a toda a hora. O caldeirão fervilhava.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Fred

Deixei o meu amigo Fred .


Desejo enorme que tudo lhe corra bem.


Obrigado por um ano de óptima companhia.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sofrimento e amor

«Amou-o então , com um novo amor , porque ele a fizera sofrer» , in Servidão Humana , W. Somerset Maugham

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Poderes mágicos

Gostava de ter poderes mágicos.Quem não gostava afinal?! Aquele que agora mais jeito me dava era o poder de recuar no tempo. Andar para trás , ter a possibilidade de fazer as coisas de forma diferente e fazer coisas que nunca fui capaz de fazer .

Na impossibilidade de deter tal poder , aproveito hoje este dia de chuva e frio , para , quieto , tentar analisar com a calma possível , as possibilidades que o presente me abre , quer para o poder viver melhor quer para ter um futuro  menos agreste e solitário.

Está um frio serrano !

Outro poder que me faz falta é o poder de sorrir mesmo na desgraça. e esse eu sei que possuo.só que por estes dias tem-se afastado de mim e então a minha vida tem sido apenas trágica,sem comédia de espécie alguma.

De vez em quando,sinto paz.Tudo parece estar no sitio certo.

Ouço o distante mar , da praia deserta,sinto a brisa que penteia as ondas e imagino as gaivotas desenhando no céu voos de procura.

Gostava de ter poderes mágicos !

O silêncio pousou agora dentro de mim.
Árvores despidas enfrentam o inverno com coragem.
Os teus olhos encostam-se à retina da minha memória e volto a acreditar no amor com uma lágrima a querer desprender-se do coração.

Deus terá um plano para cada um de nós?! - perguntas.

Respira fundo , meu amor , respira fundo.

Buraco Negro

Os meus pensamentos navegam desorganizados pelo oceano etéreo do desconhecido sem que consiga dar-lhes um rumo que me apazigúe a alma.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

quasi

de novo , a velha solidão  toma conta de mim . a dor grave , grossa e densa , espalha-se como câncer por todas as células do meu corpo , destruindo-me a alma .

Quase , quasi. Mário de Sá Carneiro


Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além
Para atingir, faltou-me um golpe de asa ...
Se ao menos eu permanecesse aquém ...

Assombro ou paz ? Em vão ... Tudo esvaído
Num grande mar enganador d´espuma;Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além
Para atingir, faltou-me um golpe de asa ...
Se ao menos eu permanecesse aquém ...

Assombro ou paz ? Em vão ... Tudo esvaído
Num grande mar enganador d´espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor ! - quasi vivido ...


Quasi o amor, quase o triunfo e a chama,
Quasi o princípio e o fim - quasi a expansão ...
Mas na minh´alma tudo se derrama ...
Entanto nada foi só ilusão !

De tudo houve um começo ... e tudo errou ...
- Ai a dor de ser-quasi, dor sem fim ...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou ...

Momentos de alma que desbaratei ...
Templos aonde nunca pus um altar ...
Rios que perdi sem os levar ao mar ...
Ânsias que foram mas que não fixei ...

Se me vagueio, encontro só indícios ...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos d' heroi, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios ...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí ...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi ...





Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe d´asa ...
Se ao menos eu permanecesse aquém ...

E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor ! - quasi vivido ...


Quasi o amor, quase o triunfo e a chama,
Quasi o princípio e o fim - quasi a expansão ...
Mas na minh´alma tudo se derrama ...
Entanto nada foi só ilusão !

De tudo houve um começo ... e tudo errou ...
- Ai a dor de ser-quasi, dor sem fim ...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou ...

Momentos de alma que desbaratei ...
Templos aonde nunca pus um altar ...
Rios que perdi sem os levar ao mar ...
Ânsias que foram mas que não fixei ...

Se me vagueio, encontro só indícios ...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos d' heroi, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios ...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí ...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi ...





Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe d´asa ...
Se ao menos eu permanecesse aquém ...



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

angústia , que porra de angústia

Sinto que a distancia que me separa de mim mesmo aumenta e diminui sem que eu seja capaz de ter sobre isso algum controlo.

e é o sobressalto inquietante que fica e vai cavando fundo ,

uma angústia tormentosa que faz do tempo  , cinza , pó ...

e lágrimas esquecidas querem retornar à face que um dia as viu partir.


domingo, 5 de janeiro de 2014

Eusébio

Eusébio morreu hoje.
Incontornável figura do mundo português , do futebol em particular , ultrapassou fronteiras e foi um pedacinho de nós em muitos cantos do globo. Eusébio e Amália , foram , durante muito tempo , das nossas figuras maiores , mais conhecidas e amadas , tanto cá dentro como lá fora.

As televisões nacionais passaram (e passam) longas peças panegíricas que fazem chorar até as pedras da calçada. Merecidas , sem dúvida , mas um tanto exageradas como é nosso timbre , aliás , em ocasiões idênticas.

R.I.P.