quinta-feira, 26 de março de 2015

Mariana Mortágua


de Rodrigo Sousa Castro em 26.3.15:


A principio tive sérias dúvidas sobre alguma utilidade do inquérito.
Graças a esta mulher excepcionalmente inteligente, diligente e competente mudei um pouco a minha opinião.
Tenho pena que não seja ela a fazer o relatório e ainda mais , que não seja ela a Procuradora Geral da República.
Com ela alguma coisa mudaria, disso não tenho dúvidas.






 Meu comentário:


Plenamente de acordo com o 1º e 2ª parágrafos . Apenas de acordo com metade do 3º , porque : M.M. é ainda muito jovem ( faltar-lhe -á aquilo que só o tempo nos ensina) + a sua não formação em direito , não lhe possibilitariam , mesmo que hipoteticamente , ser PGR. Acrescento ainda, com ela já alguma coisa mudou, tenho a certeza.

the ant and the eagle

no ant has ever became an eagle,
although it’s enough to just wish
and it would become an eagle.
---Miroslav Mika Antić


(através de Daniel Abreu/FB/26mar15)

quarta-feira, 25 de março de 2015

H.Helder

" Se o conhecimento é uma forma de escrita, mesmo sem palavras, uma respiração calada, a narrativa que o silêncio faz de si mesmo, então não se deve escrever, nem mesmo admitindo que fazê-lo seria o reconhecimento do conhecimento. Pode escrever-se acerca do silêncio, porque é um modo de alcançá-lo, embora impertinente. Pode também escrever-se por asfixia, porque essa não é maneira de morrer. Pode escrever-se ainda por ilusão criminal: às vezes imagina-se que uma palavra conse...guirá atingir mortalmente o mundo. A alegria de um assassinato enorme é legítima, se embebeda o espírito, libertando-o da melancolia da fraternidade universal. Mas se apesar de tudo se escrever, escreva-se sempre para estar só. A escrita afasta concretamente o mundo. Não é o melhor método, mas é um. Os outros requerem uma energia espiritual que suspeita do próprio uso da escrita, como a religiosidade suspeita da religião e o demonismo da demonologia. A escrita - inferior na ordem dos actos simbólicos - concilia-se mal com a metamorfose interior - finalidade e símbolo, ela mesma, da energia espiritual. O espírito tende a transformar o espírito, e transforma-o. O resultado é misterioso. O resultado da escrita, não. "
- Herberto Helder

terça-feira, 24 de março de 2015

do último livro de Helberto Hélder, A Morte sem Mestre - Poema 4


que um nó de sangue na garganta


que um nó de sangue na garganta,
um nó de ar no coração,
que a mão fechada sobre uma pouca de água,
e eu não possa dizer nada,
e o resto seja só perder de vista a vastidão da terra,
sem mais saber de sítio e hora,
e baixo passar a brisa
pelo cabelo e a camisa e a boca toda tapada ao mundo,
por cada vez mais frios
o dia, a noite, o inferno, o inverno,
sem números para contar os dedos muito abertos
cortados das pontas dos braços,
sem sangue à vista:
só uma onda, só uma espuma entre pés e cabeça,
para sequer um jogo ou uma razão,
oh bela morte num dia seguro em qualquer parte
de gente em volta atenta à espera de nada,
um nó de sangue na garganta,
um nó apenas duro

(in A Morte sem Mestre; ed. Porto Editora, 2014)

do último livro de Helberto Hélder, A Morte sem Mestre - Poema 3

tão fortes eram que sobreviveram à língua morta


tão fortes eram que sobreviveram à língua morta,
esses poucos poemas acerca do que hoje me atormenta,
décadas, séculos, milénios,
e eles vibram,
e entre os objectos técnicos no apartamento,
rádio, tv, telemóvel,
relógios de pulso,
esmagam-me por assim dizer com a sua verdade última
sobre a morte do corpo,
dizem apenas: igual ao pó da terra que não respira,
o que é falso, pois eu é que deixarei de respirar
sobre o pó da terra que respira,
entre o poema sumério e este poema de curto fôlego,
mas que talvez respire um dia,
ou dois, ou três dias mais:
quanto às coisas sumérias: as mãos da rapariga,
o cabelo da estreita rapariga,
a luz que estremecia nela,
tudo isso perdura em mim pelos milénios fora,
disso, oh sim, é que eu estou vivo e estremeço ainda

do último livro de Helberto Hélder, A Morte sem Mestre - Poema 2

Roub

queria fechar-se inteiro num poema


queria fechar-se inteiro num poema
lavrado em língua ao mesmo tempo plana e plena
poema enfim onde coubessem os dez dedos
desde a roca ao fuso
para lá dentro ficar escrito direito e esquerdo
quero eu dizer: todo
vivo moribundo morto
a sombra dos elementos por cima

Herberto Helder lido por Herberto Helder (Renascença)

Ultimo livro de Helberto Hélder, A Morte sem Mestre - Poema 1

Roubado a sapo.pt , em 24.03.2015 , 19H08


a última bilha de gás durou dois meses e três dias

a última bilha de gás durou dois meses e três dias,
com o gás dos últimos dias podia ter-me suicidado,
mas eis que se foram os três dias e estou aqui
e só tenho a dizer que não sei como arranjar dinheiro para outra bilha,
se vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da morte,
e mesmo assim tinha de comprá-lo fiado,
não sei o que vai ser da minha vida,
tão cara, Deus meu, que está a morte,
porque já me não fiam nada onde comprava tudo,
mesmo coisas rápidas,
se eu fosse judeu e se com um pouco de jeito isto por aqui acabasse nazi,
já seria mais fácil,
como diria o outro: a minha vida longa por muito pouco,
uma bilha de gás,
a minha vida quotidiana e a eternidade que já ouvi dizer que a habita e move,
não me queixo de nada no mundo senão do preço das bilhas de gás,
ou então de já mas não venderem fiado
e a pagar um dia a conta toda por junto:
corpo e alma e bilhas de gás na eternidade
- e dizem-me que há tanto gás por esse mundo fora,
países inteiros cheios de gás por baixo!

R.I.P - Herberto Helder





Herberto [1930-2015]
os capítulos maiores da minha vida, suas músicas e palavras,
esqueci-os todos:
octagenário apenas, e a morte só de pensá-la calo,...
é claro que a olhei de frente no capítulo vigésimo,
mas não nunca nem jamais agora:
agora sou olhado, e estremeço
do incrível natural de ser olhado assim por ela

[in Servidões]




Roubado ao mural do FB de Carlos Vaz Marques em 24.03.2015.

segunda-feira, 23 de março de 2015


Flávio Félix ( FB ) - 23.03.2015 - Num comentário a um post de Rui Zink : também eu em tempos metamorfoseei-me de agrimensor contratado num processo Kafkiano a fingir um poeta que injectava metafisica no sangue. K tinha pessoa nos sonhos e fingia fingir ser um Almada perdido em puns metamorfoseado de pins. há manifestos futuristas desaguados em mim, num quarto de hospital que o meu pai não pagará! quero ser um K horpheusado de Álvaro em fuga num qualquer cais cinzento de Paris. Celebrai, cerebrai, que eu volto já!

O Saudar o Sol , de Pessoa

Não percebo esta esquerda tanta coisa com o Pessoa esse nacional-socialista que no ultimo poema já no leito da morte não se coíbe de fazer saudação solar .... poética ou não .
"É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,

Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada."
Fernando Pessoa



( Roubado a César Viegas , FB )

Frederico e a dança



"Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma gargalhada!"  , roubado a Rita Brandão.


Que comentou a minha observação no FB , em 22.3.15:

" Não acredito num Deus que não saiba dançar" - F. Nietzsche


Complementada , por mim , com esta outra :


"Devia ter completado : Eu também não, Frederico!"


Muito bem visto Rita

domingo, 22 de março de 2015

Talvez f&#$%

Há bombas em Belfast e em Beirute
É preciso afinar o azimute

E eu e tu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)
E tu e eu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)

Há mortos na Palestina
E há feridos em Israel
Conversações que não saem do papel

E eu e tu o que é que temos que Fazer?...
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)
E tu e eu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)

Porque o que eu quero é
O teu corpo e o teu sexo
Porque o que eu quero é
O teu corpo e o teu sexo
Porque o que eu quero é
O teu corpo e o teu sexo
Porque o que eu quero é
O teu corpo e o teu sexo

Há snipers em Sarajevo
E há fome em Bombaim
Guerra civil sem vergonha nem Fim

E eu e tu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)
E tu e eu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)

Há fascistas em Berlim e em Moscovo
É o discurso que de velho se faz novo

E eu e tu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)
E tu e eu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)

Porque o que eu quero é
O teu corpo e o teu sexo
Porque o que eu quero é
O teu corpo e o teu sexo
Porque o que eu quero é
O teu corpo e o teu sexo
Porque o que eu quero é
O teu corpo e o teu sexo

E eu e tu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)
E tu e eu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)

E eu e tu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)
E tu e eu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)

E eu e tu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)
E tu e eu o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)

E nós todos o que é que temos que Fazer?
(Talvez Foder)
(Talvez Foder)
by Pedro Abrunhosa e os Bandemónio

Arte de Amar

Arte de Amar

Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,...
o imenso trabalho que amor dá para fazer.

Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.

(Thiago de Mello)

O Eros


 “O amor-sexualidade e o amor-espiritualidade são a emergência de uma mesma seiva da árvore humana, a dois níveis diferentes mas indissociáveis: o Eros.” - Annike de Souzenelle

domingo, 8 de março de 2015

Um novo partido em Portugal.

Ontem, fui-me deitar com a cabeça cheia de palavras. Acontece - me de vez em quando . Boa parte das vezes , as palavras , acabam por se perder na noite escura , talvez se enfiem também dentro dos lençóis , para descansar , e por lá se dissolvam , porque não volto mais a vê-las. Mas desta vez foi diferente. Vieram ter comigo hoje.

Encostara a cabeça à almofada , idealizando um partido de homens e mulheres correctos , que tivesse a decência como bandeira e o empenho desinteressado por princípio. Começara até , dentro das minhas muito humildes capacidades , a alinhavar as grandes linhas mestras , os rudimentos , portanto ,  de uns eventuais estatutos. Àquela hora , as ideias fluíam , desenvoltas e estruturadas , impossíveis de serem rebatidas. Uma maravilha! Estava espantado comigo mesmo... . Mas adormeci entretanto. Não foi por enfado , não , foi simplesmente por uma superior exigência do meu corpo cansado . Há coisas contra as quais não vale a pena lutar.

E então hoje , quando acordei , foi com algum espanto que encontrei as palavras com que ontem me deitara : lá estavam a decência e o desinteresse , cheias de vontade de se agregarem num novo partido para o qual , imagine-se , tinham até arranjado uma sigla e tudo : PGD - Partido de Gente Decente.

Que raio de coisa , pensei. Devo estar doido...