sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Amar !
Vejam só o que lhe havia de acontecer. É bom e doce , como sabem , muito saboroso mesmo , não é preciso falar disso , mas talvez não seja coisa dos dias de hoje  nem , porventura , seja o sentimento mais adequado à sua idade , pensou , enquanto andava para trás e para a frente pelo corredor .
Mas o que fazer ?! ...
Certamente nem há idades certas para amar ! , reflectiu. A atracção é coisa inexplicável e o coração não se controla . Por isso , o que era preciso neste momento era aguentar o embate , disfarçar tanto quanto possível e tentar agir discretamente como sempre agiu, repetia em voz alta , agora por toda a casa.
O problema , raios , (mas que inesperado problema nesta altura da sua vida ! ), eram as borboletas no estômago , o tremor das pernas  , a falta de apetite ( na realidade , uma benção ) e  as insónias permanentes. Disto , já ele não se lembrava como era e não estava nada , mesmo nada , preparado para voltar a passar por este género de emoções.

E quando com ela me cruzo na rua ou com ela me encontro no mesmo local .?!... uma aflição risível , um feérico circo de emoções que por vezes me deixa tonto , atarantado ,uma espécie de embriaguez sem ter bebido.

É bom ?! Sim , é bom. Sendo diferente nos efeitos ,é uma droga quase tão boa como viajar.

Porque estais a ler isto?!...
No que a mim me diz respeito , é porque me apeteceu publicar ... ( ficamos um pedacito alterados nestas ocasiões )Se vocês têm alguma coisa a ver com este meu encantamento ?! , não claro

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O mundo é um lugar repleto de coisas estranhas  , um lugar estranho como se costuma dizer.Desde logo nós próprios , os humanos

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Levantou-se! Olhou para Ricardo com um ar complacente , fez-lhe uma imperceptível carícia na face e sussurrou-lhe ao ouvido : " És um querido ! "  . Caminhou em silêncio até à porta da rua ,pela sala contígua, e , foi-se embora !

A desilusão e o vazio  encheram a saleta onde Ricardo permaneceu imóvel . Parecia que o tecto daquela divisão da casa iria abater -se - lhe  sobre a cabeça
Escrevo-te porque te amo e tenho urgência. Tenho pressa na tua presença,ansioso por sentir bater o teu coração  , em saber-te perto de mim .Mesmo que estejas longe , amor , tenho pressa em saber se queres estar perto , se queres fazer a mesma caminhada. 
O cansaço toma conta de mim e imagino coisas.

domingo, 26 de agosto de 2018

Não sei que horas eram. Podia ser uma qualquer hora , pouco importava. A noite já há muito tinha caído , isso era certo. Entraram na casa em silêncio e dirigiram-se para a pequena saleta , logo ao lado da sala de jantar , onde ele costuma ver televisão ou sentar-se a ler . Os cabelos lisos , soltos , perfumados e pretos , roçaram fortuitamente a sua face no momento em que se aproximaram da porta de acesso àquela divisão da casa e ele a deixou, gentilmente, passar à sua frente . O frémito causado foi de tal ordem que foi como se o universo tivesse parado por uns milésimos de segundo ou uma reedição do terramoto de 1755 estivesse a decorrer.
Não conseguia acalmar-se. Parecia um adolescente em primeira viagem de paixão. Quis comunicar-lhe a imensa alegria ( era muito mais do que alegria) que era ali estar a sós com ela e como o mundo se transformava num lugar mais bonito e harmonioso, justo e pacifico , sempre que estava a seu lado mas ficou mudo. Não durou muito o silêncio ! Para disfarçar o nervosismo e o embaraço patético / cruel de um tímido , começou a falar torrencialmente : do que tinha feito durante o dia , das últimas notícias , do tempo que fizera , da família, o sobrinho engenheiro de sucesso e a irmã professora , do cão que acabara de adoptar , dos ,( muito provavelmente) , irrealizáveis projectos que tinha pela frente, da política em geral e do governo em particular , na expectativa de encontrar o momento ideal para lhe revelar o que por ela sentia. Os segundos tanto pareciam durar uma eternidade como , logo a seguir , pareciam esvair-se à velocidade da luz. Ela respondia , acrescentava , opinava , acompanhando as palavras com gestos suaves e expressivos movimentos das mãos onde ele leu coisas que por certo eles verdadeiramente não diziam.
Mãos elegantes magnetizam-no ! Compõem um bailado peculiar que se torna mais importante que a voz que o acompanha . Podem dizer mais que a boca.
Foi precisamente com aquelas bonitas mãos que Cristina pegou no telefone e ligou à sua amiga Margarida ; logo depois , disse - lhe : " Vou-me embora ".

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A solidão !
Quase só me lembro de estar sozinho mas nem sempre foi assim: além da família , tive colegas de escola, do liceu e da universidade , com quem convivi mais ou menos intensamente ; uns tornaram  - se amigos/as  ,outros , apenas conhecidos/as ; pertenci a grupos , namorei umas tantas vezes -  não muitas , diga-se - ;  tive colegas de trabalho que foram pessoas muito importantes durante um bom período de tempo da minha vida , mesmo que  , na realidade , nenhuma tenha passado da relação profissional para a da amizade . Com o tempo , naturalmente, os laços foram-se perdendo . Conheci pessoas diferentes quando pratiquei karaté e depois  yoga com quem me dei muito bem e com quem socializei amiúde mas que estão hoje geograficamente distantes ; vivo numa aldeia onde conheço e falo com  quase toda a gente  ....  mas hoje , estou , e sinto - me só.


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Gostava que as palavras escritas conseguissem transmitir as palavras pensadas.

sábado, 18 de agosto de 2018

Queria conseguir esquecer.Talvez dormir ajudasse mas ultimamente o sono parece ter-se zangado comigo e deixa-me vígil , agitado , entregue aos demónios. 
O que fazer,então ?! Nem pensar em sair que o calor aperta ; ver um filme , ler , ouvir música ... Nada , nada resulta ! Só consigo pensar em ti .Há uma montanha de ti em frente a mim.
... e tu não existes ! Só existe a forma como te penso , como te sinto , como te lembro...
Na dúvida , na indefinição , sentei-me aqui , na expectativa que as palavras encontrem o caminho, o meu e o delas. Não parece coisa fácil mas se deixar os dedos tactear as teclas e fechar os olhos , respirar pausadamente , pode ser que apareças . De cabelos lisos , sorriso leve , mãos elegantes , decididas , que afagam os filhos e lhes alimentam o corpo e falam, falam tão claramente como porventura não fala qualquer outra parte do teu corpo a não ser talvez o teu rosto.
Macio , estreito , suave . E forte !
Deixar que a tua imagem , que me esmaga e me preenche , se dissipe e se transforme , no sonho real das mãos que se tocam , baloiçam e dançam , juvenis , nos lábios que se encontram , o coração que estremece e o olhar que se fixa no olhar e mergulha fundo .
- Espera , não vás ainda !

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Desprendi o olhar pelo horizonte líquido e tecida em água de prata lá estavas tu , nadando , cabelos de seda , lisos, estendidos , como um véu preto

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Parecia um tolo , perdido no meio do café , sem saber o que fazer com o corpo , com as mãos , com a voz. Simultaneamente , contente e aflito - como uma criança largada dos pais na compra dos primeiros rebuçados , pedidos pela própria voz. Um encantamento , uma aflição , uma expectativa ansiosa . Feliz ! Senti-me feliz. Perdido no meio do café que conheço há mais de 40 anos.

domingo, 12 de agosto de 2018

Sim, pensou em almoçar . Passava um bocado da hora habitual mas era domingo , levantara-se tarde e não tinha qualquer compromisso pela frente. Não estava com grande apetite mas mesmo assim foi para a cozinha preparar o que haveria de comer. Não conseguiu tirar da cabeça a mulher com quem falara de raspão na noite anterior e com quem depois cruzou o olhar, em silêncio . Tinha uns amenos e redondos olhos azuis , que o fizeram arrepender-se de não ter prolongado a conversa tida anteriormente mas , naquele instante , nada disseram um ao outro. Percebeu no entanto que ,suspensa no ar , ficara a vontade de ambos de voltarem a conversar. Foi a ideia com que ficou. A mulher que no primeiro contacto em nada lhe chamara a atenção , viria a fixar-se-lhe no pensamento . Arranjou um marinada para a perna de frango que tinha no frigorífico, cortou em metades umas batatas novas e colocou a assadeira, com dois tomates apenas , dentro do forno que começava a aquecer. Lavou a pouca louça que por ali estava , deu comida aos gatos e foi para a sala onde se sentou por um bocado , fumando um cigarro.Depois , voltou à cozinha, pegou nas batatas e no frango , cortou umas fatias de uma courgette da sua horta e foi tudo fazer companhia aos tomates para o quentinho do forno. Já passava das três e meia quando acabou a refeição. Dormitou no sofá com o televisor ligado à sua frente acordando estonteado com o som da campainha , uns vinte minutos depois. Acordava quase sempre bem disposto após estas pequenas sestas mas desta vez despertara de mau humor , sem grande vontade de falar
Ela disse sim,ele também e poderão ser felizes para sempre, pensei. Ainda existe sempre?!, perguntou-me.Acho que sim , respondi,porque raio havia de ter acabado?!. Hoje nada é mais como dantes,olha o que te digo, retorquiu Sim,sim,okay,eu sei disso, mas que interessa agora?!eles têm o sonho vivo e amam-se.

sábado, 11 de agosto de 2018

A dúvida que me aborrece continua. Não podia ser de outra maneira. Tenho que fazer alguma coisa da minha vida. Ganhar dinheiro. Penso em avançar com um alojamento local mas a propriedade não me pertence só a mim e isso deixa-me titubeante. Apesar dos anos passados , a vida que vale , digamos assim , é hoje e amanhã e o túnel do tempo vai afunilando. Alguma coisa tem que ser feita.
Impossível viver desta forma mas não encontro o caminho de outra. Fico então em terra de ninguém , dentro de uma bola de silêncio e dúvida. Não ter um objectivo concreto , um propósito , um porto para onde me dirigir, incomoda e perturba. Sair de casa e ouvir dizer, olha lá vem o vendedor de gelados, o distribuidor de jornais , o médico , o carteiro , electricista ,empresário, o que for. Nada ! Não sei quem sou ! Se vendo ilusões ou compro enganos. Recolho-me em casa . Fico no esconderijo,meio receoso , esperando que o tempo traga uma resposta. Trago-te , pela memória, para ao pé de mim aconchegando a solidão. Não tenho paciência para o jogo social mas sei que é com os outros que se aprende e cresce. Lamento não estar ao pé de ti , poder ver o teu rosto e o teu corpo , ouvir a tua voz . Lamento estar aqui só , triste e descontente , escrevendo como panaceia para a solidão . Devia ir ter contigo ou então ir para um divã de psicanalista ou sofá de terapeuta . Assim não dá! Não vale ! A vida é demasiado curta e rápida para se perder tempo com lamúrias

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Silêncio e vazio. No coração nem uma aragem. De mais fundo , um sopro de angústia
Uma espécie de anestesia deixa-me sem reacção definida em face da situação vivida na serra de Monchique , no lugar de Enxerim, Silves , que vejo através da televisão: há pessoas a serem evacuadas de suas casas , com malas na mão , os haveres possíveis , gnrs a convencerem outras da necessidade da saída dos seus lares de forma muito enérgica , quase brutal , numa correria caótica ... e não imagino bem como seria a minha reacção caso passasse por situação idêntica. Um drama imenso mas preferível à morte Num dos canais , alguns "especialistas" vão debitando as suas perspectivas e teorias sobre o assunto

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Fim do dia. Talvez umas sete , sete e meia da tarde. Bem sei que no verão o final da luz do dia é mais tarde mas para mim , tinha determinado que aquele momento é que marcaria o fim do dia. O céu estava grandemente manchado de fumo cinzento por causa de um incêndio que acabara de deflagrar e se adivinhava sério e feio. Parámos no pequeno café à saída do lugar, para dois dedos de conversa com o dono , um homem de meia idade avançada , que estava quase sempre sentado na esplanada , a fumar o seu cigarro. O espaço , remodelado há pouco tempo , mantinha ainda traços e memórias da taberna de aldeia que sempre fora. Lá dentro , o ar era desagradável , mas na pequena esplanada não se estava mal. Ficámos ali por um bocado . Eu bebi uma cerveja e Ana tomou um café . O dono , António , ocupou-se com uns clientes que entretanto tinham chegado e nós ocupámos o tempo com os smartphones. Entretanto fiz duas chamadas que precisava e de seguida abalámos. Ana sugeriu ir mostrar-me os vinhedos que ali tinham sido plantados há cerca de uns seis anos , quase tantos como os anos da minha ausência naquelas paragens , e depois da visita seguimos silenciosamente até à nossa "casa" temporária. , ouvindo o 'Lamento de Dido' de Purcell que o Carlos estivera a ouvir na noite anterior. Nem o ronronar nem os outros ruídos que o carro antigo fazia na estrada de terra batida , se ouviam. A voz da soprano inundou por completo o habitáculo do automóvel e os nossos pensamentos ficaram submersos sob tão intensos acordes . Não me apetecia que a viagem tivesse fim, pensei. De súbito , um burro zebra começa a correr , urrando violentamente , ao nosso lado acompanhando o movimento do carro até ao canto da propriedade , local onde por certo deve ser habitualmente alimentado. Estaria com fome e aquela podia ser a hora a que normalmente o saciavam pelo que nos confundiu com os seus tratadores. Lamentei não ter forma de amenizar a sua necessidade e continuei conduzindo lentamente o carro pela estrada poeirenta. O sol , encoberto pela espessa nuvem de fumo e já muito próximo de beijar o mar , mais parecia a lua que o astro-rei de tão pequeno que estava. Toquei suavemente na sua mão e Ana olhou para mim.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Ouço a música e a memória é avivada . Inicia-se de imediato um processo mental , porventura disfuncional , que faz com que o pensamento comece a relacionar momentos de diferentes épocas da minha vida. Coisas do passado que se vêm misturar com coisas do presente .