É para ontem - disse-me com convicção.
Recostei - me no sofá e fiquei com as palavras dentro de mim, em silêncio.
É a sua vida que está em jogo . Se eu estivesse no seu lugar , acho que não tinha nada mais importante com que me preocupar , era mesmo a minha principal prioridade - afirmou ainda mais energicamente e , um pouco depois , continuou: já que veio até aqui , anda um pouco mais e vai já à urgência do hospital.
Saí um pouco atarantado , não muito mais do que estava , é verdade , e , quase como um autómato, consciente contudo de que era minha vontade , conduzi o carro, com precaução redobrada , até às urgências ; mesmo assim , alguma incerteza pairou ainda nos meus pensamentos mas a noção precisa da real necessidade da minha deslocação , foi mais forte e , com custo , lá consegui chegar e encontrar um lugar para estacionar no meio do emaranhado que é todo aquele hospital também no exterior.
O Benfica jogava ou ia jogar com o Man United e isso foi - me favorável. Menos gente na triagem muito menos gente para a especialidade a que recorri - a psiquiatria - e por isso , ao invés de ser «despachado» em dez ou vinte minutos , estive quase uma hora e meia comunicando as minhas angústias e fobias , o meu mitigado desespero , ouvido pacientemente , primeiro por um médico sénior e depois pela sua assistente , uma mulher ainda jovem , interessante e bonita , com uns óculos pretos , de massa , a fazer lembrar uma intelectual activa ou professora engajada , que , com profissionalismo,calma e atenção me foi ouvindo , me foi interpelando e explicando o que comigo se está a passar. Ao mesmo tempo,com uma agilidade elegante e discreta ia dedilhando no computador o que eu dizia , imagino que de forma sintética para futuro acompanhamento em consulta.
Vim mais aliviado mas percebendo que tenho um difícil caminho pela frente.
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